Janeth, nossa melhor e mais renomada jogadora de basquete da atualidade, disse em recente entrevista (Revista Veja, edição 2013, no24) que tem poucos negros (as) jogando basquete em âmbito profissional. Isso aconteceria, ao juízo da jogadora tetracampeã na liga nacional americana, em função de a principal porta de entrada para a modalidade ser os clubes sociais. Como poucos negros têm condições de pagar para serem sócios desses clubes, muitos ficariam à margem do basquete de alto rendimento. Confesso que nunca pensei na supremacia branca a qual se reporta Janeth. Sequer saberia se isso corresponde à verdade. O fato que me chamou à atenção, e nisso estou de acordo com Janeth, é que a falta de oportunidade impede muitos pobres (negros, pardos e brancos) de chegarem ao esporte de rendimento elevado. Implícito às palavras de Janeth está o cinismo dos nossos governantes, bons de papo, mas não de atitude. Essa gente investe muito dinheiro em propaganda esportiva, em lobby para sediar uma Copa do Mundo, em infra-estrutura Pan-Americana, mas relega a um plano secundário o seu dever, que é oferecer esporte gratuito e de qualidade para todos os jovens que não podem pagar por isso.
“O esporte tem o predicado de dar às crianças a esperança de um futuro melhor? Claro que sim. Isso não significa ser, um dia, um atleta olímpico, mas querer sê-lo ainda que nunca o seja”.
Penso que muito mais relevante do que sediar uma Copa do Mundo de Futebol e coisas do gênero, é a ação de garantir a todos os jovens a oportunidade de praticar esporte gratuitamente e de qualidade. É preciso investir “tudo” nisso. O poder público devia dar às crianças esperança de um futuro melhor. Isso pode ser feito ao se inserir projetos esportivos (cultura) nos lugares sombrios e míseros em que moram. Os pobres, realmente, como Janeth sentenciou, não têm acesso aos clubes sociais como as crianças ricas. Não têm o “campo dos sonhos” de que toda criança precisa para seguir adiante. O esporte tem o predicado de dar à criança a esperança de um futuro melhor? Claro que sim. Isso não significa, apenas, ser, um dia, um atleta olímpico, mas querer sê-lo ainda que nunca o seja. A esperança num futuro promissor manterá os jovens focados em algo tremendo como o esporte numa fase da vida em que se define quem se será e o que se fará por boa parte da vida. Isso, por si só, denuncia a dimensão sócio-educativa do esporte. Ancoradas no esporte, felizes, esperançosas, com campeonatos para disputar, viagens para fazer, com auto-estima elevada, metas para atingir, “olhando” para dentro, com atenção do professor, algumas crianças e jovens terão a oportunidade de se conhecerem e mudar a perspectiva sobre a vida. Isso, de sonhar, de ter desafios para enfrentar, de acreditar que não se é alguém desafortunado pode soar piegas para quem tem tudo isso, mas não para quem não tem.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário